Quem já está um pouco mais velhinho, com certeza se recorda dos pais recomendando algo como “não converse com estranhos na rua” quando era criança.
Parece que foi ontem, não é verdade?
Hoje, no entanto, o cenário mudou. Mas será que os perigos não continuam os mesmos?
Neste artigo, falaremos sobre as crianças na internet, os riscos e as recomendações para que nada de mau aconteça aos nossos pequenos durante a navegação.
Dos pequeninos é a internet
Você já percebeu que a presença da criançada na web está aumentando mais e mais a cada dia?
Todos nós sabemos que o mundo hoje é tech; e que, por conta disso, a molecada dessa nova era já não empina tanto pipa, roda tanto peão, joga bolinha de gude… Enfim, não passa tanto tempo na rua como as gerações passadas. Isso é um fato!
Porém, a quantidade de internautas mirins assíduos atualmente ainda impressiona.
Segundo o mais recente relatório da TIC Kids Online Brasil, cerca de 90% das crianças e dos adolescentes brasileiros acessam diariamente a internet (sendo que o restante só não o faz por falta de condições).
Isso equivale a quase 30 milhões de infanto-juvenis conectados! Só no nosso país. E esses números alarmantes se dão, basicamente, por dois motivos:
Popularização dos smartphones: a possibilidade cada vez maior de se obter um celular faz com que esse dispositivo móvel seja hoje a principal via de acesso à rede pela garotada. 95% das nossas crianças acessam a internet por meio desse prático e portátil aparelho.
Pandemia: a covid-19 forçou até aqueles que não eram muito fãs de tecnologia a se conectarem. Se antes a meninada era incentivada a passar o menor tempo possível online, agora o desafio é convencê-las a passar mais tempo conectadas, prestando atenção nas aulas à distância.
Por conta disso tudo, hoje estranhamos quando uma criança não está na internet; não é verdade?
E essa presença maciça dos pequenos no mundo virtual não é apenas corriqueira, mas também parece ser conveniente aos seus responsáveis. Muitos deles, cansados de passar tempo com suas crianças em casa, os abandonam desprotegidos para navegarem pela web sem fiscalização alguma.
Geralmente, os pais têm uma falsa sensação de que, por estarem dentro de seus quartos, só utilizando o computador, seus filhos estão fora de perigo. Mas é justamente aí que mora o perigo!
A internet é altamente benéfica e, por vezes, até mesmo necessária atualmente. Contudo, esse universo digital oferece tantos perigos quanto qualquer viela por aí.
Quais os riscos que uma criança corre ao navegar pela internet?
Violação de dados
Questões como a coleta e o uso criminoso de dados de infanto-juvenis têm sido cada vez mais recorrentes na rede.
E não só a criança pode compartilhar inocentemente informações pessoais com enganadores digitais de plantão — que usam de todos os meios possíveis para envolvê-la, como perfis fakes, assuntos da moda e gírias joviais —, como elas podem também fornecer inadvertidamente dados sigilosos a companhias publicitárias de má índole.
Nos últimos tempos, muitas empresas de tecnologia buscaram colégios para firmar parcerias que prometiam oferecer soluções tecnológicas para facilitar o ensino remoto, mas que, no fundo, não passavam de artimanhas para a coleta de informações pessoais de jovens alunos para fins comerciais.
Exposição a conteúdo impróprio
Outro ponto de constante preocupação para pais, educadores e especialistas é a exposição das crianças e adolescentes a conteúdos inadequados — que violam a integridade física e mental dos pequenos.
Obviamente, ao passar mais tempo na internet, a garotada fica mais suscetível a problemas como compartilhamento de imagens íntimas, contato com pedófilos, acesso discriminado à pornografia, incitação à violência, à bulimia, ao consumo de drogas, suicídio, etc.
Cyberbullying
Segundo a Cyberbullying Research, mais de 40% das crianças na internet já tiveram contato direto com intimidadores cibernéticos.
Em novembro do ano passado, a ONU chamou a atenção para o crescimento do bullying digital durante o período de isolamento social.
Mesmo plataformas que prometem ambientes seguros estão sujeitas aos bullies. O Google Classroom, por exemplo, registrou diversos episódios de cyberbullying entre estudantes que utilizavam o portal.
Jogos que funcionam como verdadeiras comunidades virtuais, como Roblox e Minecraft, também já reportaram invasões de hackers criminosos e casos de ameaças e intimidação a crianças.
O próprio Zoom (o aplicativo da pandemia) registrou tantos casos de penetras intimidadores em reuniões, que até se criou uma gíria para a prática — o “zoombombing”.
A que pé está a segurança infantil hoje?
Em relação à privacidade e coleta indevida de dados, a indústria mundial de comunicação e entretenimento está a par dos riscos que as crianças correm, e tem tomado cuidados através da aplicação de diferentes regulações e multas a anunciantes e criadores de conteúdo.
Em 2019, a FTC (Comissão Federal de Comércio dos EUA), sancionou o YouTube e o multou em US$ 170 milhões por não cumprir com a lei COPPA. Essa norma americana regula o recolhimento de informações pessoais de crianças menores de 13 anos por agências de e-commerce.
Mas ainda que os americanos tenham sido os pioneiros nesse cuidado legislativo com a moçada, muitas outras regulamentações foram se desenvolvendo para hoje proteger milhões e milhões de crianças ao redor do mundo.
A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que entrou em vigor no Brasil em 2020, é uma delas.
Por conta dessa legislação, o TikTok já foi multado por coletar informações pessoais de menores de idade, e a Mattel Brasil foi condenada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a pagar uma multa de R$ 200 mil pelo uso indevido da imagem de youtubers mirins.
Também recentemente, a Google retirou da Play Store vários aplicativos infantis por armazenarem informações pessoais inapropriadamente. E a própria empresa de buscas já foi investigada pelo Ministério da Justiça pela utilização ilícita de dados de adolescentes.
Mas mesmo com todas essas sanções, naturalmente a web não é o melhor lugar para os pequenos.
É só ver como funciona o mundo externo. Nas ruas, os criminosos estão à solta, operando, mesmo com um monte de leis vigentes.
E no interno mundo da internet, as coisas não são diferentes! As legislações podem inibir, mas não impedem por completo as ações malignas de criminosos cibernéticos.
E as crianças são os usuários mais vulneráveis, não é mesmo?
Para evitar que nossos filhos se tornem vítimas de crimes pela rede, é preciso adotar algumas práticas de prevenção.
Mas, e aí?
O que podemos fazer?
Filhos
Não falem com estranhos enquanto navegam. A antiga regra continua valendo! (Adotando essa única medida, os riscos já diminuem bastante);
Não encaminhem nem postem fotos de casa, de carros, em frente à escola ou com uniforme, nem com roupas íntimas ou sensuais;
Não abram arquivos ou anexos enviados com propagandas associadas a jogos, ou brincadeiras. Eles podem conter conteúdos impróprios ou abrir portas para crackers invadirem seus dispositivos;
Ouçam a instrução de seu pai, e não desprezem o ensino de sua mãe.
Pais
Busquem monitorar a navegação dos seus filhos e verificar o seu histórico de busca. Existem aplicativos de monitoramento (que podem ser instalados em qualquer dispositivo), que permitem o controle de acesso, de tempo de uso e bloqueio de sites impróprios;
Configurem os aplicativos de conversa e redes sociais para mostrarem a foto da criança ou adolescente apenas para amigos, e oriente-os sobre a existência de perfis falsos;
Fiquem atentos aos sinais que meninos e meninas emitem se estiverem sendo vítimas de algum crime: isolamento, toque excessivo no órgão genital, aumento no tempo de permanência na internet, distanciamento das demais pessoas da casa enquanto navega, segredos, variação de humor, irritabilidade, mudança de hábitos alimentares, baixa no rendimento escolar, pesadelos, apneia, e sintomas autodestrutivos como automutilação e pensamentos suicidas;
Procurem desenvolver uma relação de confiança com o seu filho e dar liberdade para que ele possa contar quando se sentir aflito ou desconfortável frente a algum risco;
Utilizem literatura e vídeos educativos para falar sobre o assunto e fomentar o conhecimento na meninada. Quanto mais informação, maior a prevenção.
Essas medidas de segurança são muito valiosas; entretanto, a responsabilidade de se criar um ambiente digital mais seguro para as crianças não recai somente sobre os ombros de seus pais.
As empresas e a sociedade no geral também são responsáveis por essa árdua tarefa.
Empresas
As corporações têm a missão de educar, entreter e transmitir valores, mantendo os menores de idade protegidos de qualquer risco potencial, além de investirem na criação de ferramentas tecnológicas de proteção, e de adotarem práticas publicitárias não invasivas.
Sociedade
Nada do que foi dito acima bastaria se não enfatizássemos também a necessidade de toda a comunidade impulsionar um ecossistema digital acolhedor às crianças, com conteúdo sadio e adequado, que garanta experiências inspiradoras, divertidas e educativas, além de denunciar toda forma de abuso infantil.
Conclusão
As crianças dessa geração passam bem mais tempo isoladas, em frente às telinhas. Mas engana-se quem pensa que assim elas estão mais seguras. Os perigos que encontrariam nas ruas, apenas se mudaram para dentro de nossas casas.
Agora, os estranhos estão online — nos dispositivos dos nossos pequenos.
Assim, os cuidados de hoje devem seguir o mesmo sentido das recomendações de ontem.
O caminho é longo, mas com a ação conjunta de legisladores, famílias, organizações, e da sociedade como um todo, conseguiremos proporcionar aos mais novinhos uma navegação pela internet livre de todo mal.
Fonte: Starti